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Por que Joe Sacco está na vanguarda do Jornalismo, 1/3

created Jun 13th 2015, 02:43 by


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Comprei quatro revistas em quadrinhos de Joe Sacco uns três anos. sabia que misturava jornalismo e quadrinhos, e era multipremiado. Li algumas partes, curti o desenho e a veia política, mas não cheguei a mergulhar nas narrativas do cara. Recentemente fiquei sem notebook, uma verdadeira porrada na minha produtividade e resolvi ler a montanha de quadrinhos e livros que tinha comprado nos últimos tempos.
 
Joe Sacco estava lá, com cinco HQs tinha comprado a autobiografia dele, O Derrotista, em uma promoção online. Li tudo numa porrada e pareceu como um soco no estômago. De cara, todas as obras de Sacco entraram pra minha lista de Coisas Que Queria Ter Escrito, junto com uns livros do Hunter Thompson, do Robert Anton Wilson e alguns textos do Bob Black. Joe Sacco é um tipo de jornalista difícil de encontrar por aí, e utiliza uma abordagem qualitativa e microcósmica para relatar uma narrativa completamente macrocósmica algo como a escola de pesquisa do antropólogo italiano Carlo Ginzburg.
 
Ele não pratica o jornalismo tipicamente vomitado da atualidade: com matérias que servem somente como um amontoado de dados, e entrevistas de um ou dois especialistas e, quando algum espaço, para uma testemunha. O cara não se preocupa somente em descobrir quantas pessoas foram afetadas pela Guerra da Bósnia, ou quanto de prejuízo a população palestina teve com a truculência israelense. O que importa para Sacco é dar voz para as pessoas que viveram o que está estampado em suas páginas, e isso ele faz muito bem.
 
Joe possui as poderosas abordagens de apuração de jornalistas políticos como Matt Taibb, somado ao humor de um P. J. O’Rourke, um dos melhores correspondentes de guerra que li. A combinação é rara, e ainda faz uso das técnicas de quadrinhos para nos entregar uma abordagem completa, emocionante e visceral, que não encontra tempo para concessões e ao mesmo tempo oferece um portentoso background histórico para qualquer um entender o que rolando nas páginas dos livros.
 
  
 
Sacco começou sua carreira mainstream de fazer jornalismo em quadrinhos em 1996, com o conflito mais mal entendido, mal abordado e semeador de opiniões pífias do século XX: a ocupação da Palestina. Não é um tema fácil, principalmente para alguém que não tinha renome no jornalismo internacional. Falar sobre a Palestina envolve se livrar de toneladas de lixo publicado nos noticiários israelenses e de seus respectivos mandatários, os ingleses e norte-americanos. Envolve entrar em um mundo historicamente sujo, e no epicentro de um dos maiores massacres psicológicos que uma população sofreu. Joe Sacco faz isso muito bem, e com algo que poucos jornalistas nativamente possuem: humor corrosivo.
 
Depois que o Jornalismo Gonzo virou o sucesso que é, se tornou extremamente clichê a auto-inserção de jornalistas em suas reportagens. A médio prazo, o Gonzo deixou de ser estilo vinculado a um autor genial para virar uma muleta para jornalista falar merda e se sentir cult por isso mesmo que nenhuma gota de informação tenha sido passada no texto dele.
 
Sacco nos mostra o equilíbrio de um jornalismo profundamente literário, com uma carga informativa da pesada. Ele é bem humorado, com tiradas desconcertantes sobre mazelas desumanas. Consegue divertir e ao mesmo tempo chocar e informar. Coisa fina, feita por poucos, ainda mais quando lembramos que tudo está em quadrinhos e não em longos textos rebuscados.

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