eng
competition

Text Practice Mode

Pedro, José e João

created Oct 4th, 17:25 by tecale


0


Rating

1341 words
0 completed
00:00
Era uma vez um velho muito rico e viúvo que tinha três filhos bonitos e fortes. Quando nascia um deles, o pai plantava um árvore. Os três se fizeram homens e cada um possuía um cavalo, um cachorro, uma espada e o de pau.
Duma feita, chegando na idade de sair pelo mundo o mais velho, Pedro procurou o velho e pediu para deixar a casa.
__Pode sair. Quer minha bênção com pouco dinheiro ou minha maldição com muito dinheiro?
__Quero muito dinheiro, meu Pai. Bênção é luxo.
O Pai deu muito dinheiro a ele, mandou selar o cavalo, afiar a espada e soltar o cachorro. Pedro montou e seguiu jornada, contente como quê. No fim de uns dias ouviu, ao longe, uma voz cantando:
__Tinga sala ó menga! Tinga sala ó menga!
Botou-se no rumo. Deu com um casarão cercado de alpendres. No meio do terreiro uma velha estava pilando café  num pilão que era um enorme. Pedro saltou e pediu arrancho. A velha olhou e disse:
__Eu deixo se o meu netinho amarrar o cavalo naquele fio de linha, e também o cachorro e a espada, porque tenho muito medo.
Pedro desapeou e amarrou o cavalo no fio de linha, que era um cabelo. A velha tirou outro fio da cabeça e sujigou o cachorro e com um terceiro cabelo inquiriu a espada.
__Entre, meu netinho!
Pedro entrou e foi servida uma ceia muito boa. Quando acabou, a velha levou ele para o alpendre e disse:
__Meu netinho tem força? Quer brincar de queda de corpo comigo, para distrair?
__Ora, minha avó, que ideia!
Assim que a velha o segurou, Pedro sentiu que ela podia com dez homens. Lutou, lutou e, vendo que era subjugado, gritou:
__Me acode, meu cavalão!
__Engrossa, engrossa, meu cabelão! __respondeu a velha.
O cavalo dava coices e bufava como uma fera, mas não conseguiu quebrar o cabelo que se virava numa corrente de ferro. Pedro gritou:
__Me acode, meu cachorrão!
__Engrossa, engrossa, meu cabelão! __E o cachorro não pôde acudir, preso numa corda forte como cabo de linho. Pedro gritou, cai não cai:
__Me acode, meu espadão!
__Engrossa, engrossa, meu cabelão!, meu cabelão! __E a espada não saiu da bainha, porque o cabelo da feiticeira fez um emaranhado de fio de aço. Pedro caiu e a velha amarrou-o num alçapão onde estavam muitos cavaleiros que tinham sido vencidos pela velha
Na manhã seguinte, José, o seguindo filho, olhou para a árvore de Pedro e reparou que estava murcha. Procurou o Pai imediatamente:
__Meu Pai, Pedro está doente ou preso. Quero correr mundo e ir livrá-lo.
__Quer minha bênção com pouco dinheiro ou minha maldição com muito dinheiro?
__Dinheiro faz tudo. A bênção vem depois.
Sucedeu o mesmo . Teve o dinheiro, enchendo as bruacas. Selou o cavalo, meteu a espada na bainha, chamou o cachorro e largou-se na estrada.
Dias depois, tardinha, ouviu o pião batendo e a voz cantando:
__Tinga sala ó menga! Tinga sala ó menga!
Tocou o cavalão no rumo e viu a mesma velha, pilando milho. Pediu arrancho e teve a mesma resposta. Aceitou os pedidos e amarrou o cavalo, o cachorro e a espada com fios de cabelo que a feiticeira de. Entrou, jantou e a velha convidou-o com mão de ferro. Principiou a abriga feia. para as tantas a velha foi derrubando José e este valeu-se da garganta, gritando pelo cavalo, pelo cachorro e pela espada, e não foi valido porque o cabelo da velha se transformara em correntes de fios de fero puro. Jose caiu e velha jogou-o no subterrâneo, como os outros.
Na manhã, João, o mais moço, viu a árvore de José toda murcha, com as folhas amarelas. Procurou o Pai.
__Meu Pai, estou na idade de correr mundo. A árvore de José está murcha, dizendo que ele está em perigo de morte. Quero sair também...
__Pode sair. Quer minha bênção com pouco dinheiro ou minha maldição com muito dinheiro?
__Quero sua bênção sem dinheiro. Não outro deste mundo que pague a bênção de um pai.
O pai deu mais dinheiro do que aos outros. João montou o cavalo, amarrou a espada na cintura e seguiu  viagem, acompanhado pelo cachorro.
Andou, andou, andou, Numa tarde, ao sol se pôr, ouviu a pancada do pilão e a voz cantando:
__Tinga sala ó menga! Tinga sala  ó menga! Tinga sala ó mega!
Botou-se mais que depressa para a direção e encontrou a velha pilando arroz. Saltou e pediu descanso. A velha fez as propostas que tinha feito. João ficou desconfiado de um cabelo segurar um cavalo, um cachorro e uma espada. Desceu do animal, fingindo aceitar, e fez que amarrava o cavalo, o cachorro e a espada.
A velha levou-se para dentro e deu de jantar. Depois saíram para espairecer e convidou o rapaz para uma queda de corpo. João aceitou. Foram e foram cá, brigando no duro, mas a velha era forte como um leão. O rapaz notou que seria vencido. bem depressa e pediu socorro:
__Me acuda, meu cavalão!
__Engrossa, engrossa, meu cabelão! O cabelo virou cadeia de ferro mas caiu no chão porque não estava segurando o pescoço do cavalo. Este voou para cima da velha, aos coices, seguido pelo cachorro e pela espada que acabaram com a velha em dois tempos, às dentadas e furadas.
Assim que a velha caiu e morreu, João ouviu um vento passar pela casa. Abriram-se todas  as portas e saíram os prisioneiros, muito contentes agradecendo o favor que o rapaz lhes fizera. Os quartos estavam cheios até a cumeeira de ouro e todos disseram que João era dono de tudo.
Apareceram cavalos e os homens foram-se embora. Os três irmãos ficaram juntos, abraçados. Pedro então perguntou o que se devia fazer com o corpo da velha.
__Enterra-se __ disse José.
__Queima-se _ disse José.
Resolveram queimar. Fizeram uma fogueira bem fornida e sacudiram a feiticeira dentro, atiçando o fogão que subiu, clareando tudo. De repente ouviu-se um estouro terrível que abalou a casa e os galhos das árvores vieram até o chão. Rebentara o fígado da velha e pularam fora três ovos, grande e brancos como ovos de ema.
Os três irmãos dividiram os ovos. Embora tivessem comido muito bem, acharam gosto em comer os ovos. Foram para dentro e Pedro que quebrou a casca do primeiro ovo.
Saiu uma moça bonita como os primores:
__Dê-me água, pelo amor de Deus! Água depressa! __Pediu ela.
Pedro sem perder tempo entregou o coco cheio d'água. A moça bebeu e sorriu para ele. Sentou-se e explicou, dizendo que ela era filha do Rei e estava com duas irmãs, dentro dos ovos, mais de cem anos.
José quebrou logo o seu aparecer a moça ainda mais bonita que a de Pedro.
__Dê-me água, pelas chagas de Cristo! Água mais que depressa!
José entregou o coco d'água e a moça se satisfez, quebrando o encanto.  
João, por sua vez, partiu o ovo e a moça que estava dentro da casca era uma verdadeira santa de bonita. Muito mais do que as duas juntas.
Parecia o sol. Bebeu água e ficou conversando com as irmãs e os três irmãos, todos muito alegres.
Resolveram casar logo que chegassem na cidade onde o pai das moças era Rei. Montaram a cavalo e as moças numa liteira e seguiram jornada, deixando a casa amaldiçoada pegando fogo.
Na cidade do Rei casaram e cada qual ficou em sua casa que era um palácio. João era o querido do sogro por ter desencantado e vencido a velha feiticeira, que fizera prisioneiros muitos homens e tomara riquezas sem conta. As duas princesas e os maridos ficaram enciumados e aborrecidos com a irmã e João, e começaram a tecer intrigas e armar tocaias para prender os dois, com medo de que o Rei deixasse a coroa para o casal predileto, mas nada conseguiram, e João herdou o Reino, perdoando aos irmãos e cunhadas e sendo todos felizes.
Contando por Lourença Maria da Conceição, em São José de Mipibu, Rio Grande do Norte.
 
 
 
 

saving score / loading statistics ...