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Decreto Libertador

created Wednesday October 08, 21:51 by tecale


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Havia um descontentamento muito grande no reino animal. O leão entendia que poderia acabar com esse estado de coisas baixando um decreto. Um decreto que viesse regular a vida - e que acabasse com as competições.
Não era possível aguentar mais as reclamações que chegaram de todos os lados. Adotando a medida certamente  seria da maior conveniência. E o boato espalhou-se entre os animais que nesse tempo falavam. um dia estava o galo cuidando de descer do poleiro, onde passara a noite toda dormindo e onde de vez em vez soltava o seu canto de vigilância - e de virilidade. A madrugada acabara-se, o dia vinha com o alegre despertar da vida.  
Nisto quando pensava em descer para o terreiro, pois era o primeiro que pisava, vindo depois o bando galináceo, foi surpreendido com o tropel de um animal espantado. Olhou e viu a raposa. Pensou que ela iria esconder-se à espera que a noite novamente chegasse. A carreira talvez fosse com esse fim. Mas desde que a raposa avistou o galo, subitamente parou e entrou na conversa manhosa.
- É faz aí, compadre galo ? Calado e triste. Desça que quero contar-lhe uma grande novidade de última hora. Está tão descansado que decerto ignora o que passa pelo mundo.  
- É, estou no meu lugar cuidando de minha gente, livrando-a dos perigos, pois nesse tempo de inimizades se torna indispensável muito jeito e muita habilidade. Eu vou tentando conciliar as coisas e até agora o resultado tem sido bom.
- Ora, ora... estou vendo que você não sabe de nada. Vive afastado do mundo e por isso desconhece que o rei acabou com todas as inimizades existentes. Estamos de pazes feitas. A alegria que anda por onde tenho passado é geral. Muitas festas públicas. E quer saber? É muito justo isso, pois agora podemos viver com segurança.
- Que história é essa, comadre raposa? Onde foi que a senhora colheu essa novidade? Com franqueza, não estou acreditando nisso não.
É uma notícia quase impossível.  
- Acredite se quiser, mas olhe este pape, é o decreto que acaba com todas as desavença. Eu vinha na carreira porque queria alcançar Catão ainda com as sombras da noite. Por ninguém sabe nada, reinando algumas malquerenças terrível, havendo necessidade de acabar com isso.
E então mostrou o decreto ao galo com o fim de convencê-lo a descer a acabar com desconfianças tão injustificadas. Esgotara a dialética para um convencimento total. Nada, de nada serviria. Ambos continuavam em seus lugares; ela embaixo, espiando para cima; ele a olhar a comadre, sem sair do seu canto, sem arredar pé, arisco que ele mesmo.
- Desça, venha ver. Está com medo? Eu sei ler, mas se você não sabe...
Não pôde terminar a frase porque na sua direção vinha o cachorro na disparada mais danada do mundo. Vinha feito em cima do lugar onde os dois amigos estavam conversando tão cordialmente. Diante daquele vulto insólito e disposto à violência, língua e dentes de fora, a raposa por sua vez disparou, pernas para que te quero, ganhando a capoeira num carreirão desabalado, desses de levantar poeira e fazer nuvem. Atrás seguia o cachorro no seu encalço, pega não pega. É quando o galo se lembra de gritar com toda a força de seus pulmões numa voz estridente:  
- Comadre raposa, mostre o decreto a ele. Você não disse que as inimizades se acabaram? Mostre o decreto a ele. Pare de correr tanto, mostre o decreto, comadre.

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