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Maria de Oliveira

created Thursday October 09, 23:34 by tecale


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Era um vez um príncipe, filho único, cheio de mimos e de agrados.
Seus pais o amavam demasiado e por isso ele ficou orgulhoso e habituado a satisfazer todas as vontades sem encontrar oposição.
Quando se fez rapaz, no ponto de casar, namorou uma princesa e estava animado para o sacramento. Tinha ele um criado de sua confiança, que era mestre em magia, sabendo muitos segredos do futuro. O príncipe participou o casamento. O criado disse:
- A noiva do príncipe meu senhor ainda está para nascer!
- Não diga isso, amigo!
-O que tem de ser tem muita força, meu senhor!
- Vai um dia o príncipe desmanchou o noivado e ficou gostando de outra princesa. O criado, quando ouviu o amo lhe dizer que ia casar, repetiu o dito:
-A noiva do príncipe meu senhor ainda não nasceu!
- Não diga isso, amigo!
- O que tem de ser tem muita força, meu senhor!
Novamente o príncipe acabou o noivado. Ficou se entretendo com as caçadas. Ia quase todos os dias para o mato, levando o criado de confiança, gastando dias e dias sem voltar para o palácio do rei seu pai.
Numa dessas caçadas o príncipe ficou descansando debaixo de um arvoredo sombrio que era uma beleza. Pertinho ficava a casa de um casal pobre, mas trabalhador e honrado. O homem, sempre que o príncipe chegava para a sombra das árvores, vinha fazer oferecimentos e conversar com ele.  
Numa ocasião, o príncipe e o criado apearam-se e o dono da casinha não veio, como costumava, saudar o filho do rei. Apareceu depressa dizendo que o príncipe o desculpasse porque sua mulher estava para dar à luz uma criança e ele a ajudava. O príncipe agradeceu e ficou descansando.  
Para matar o tempo, o príncipe lembrou-se de perguntar ao criado.
-Amigo, diga-me, que destino terá a criança que nascer agora?
O criado fez os cálculos e disse:
-Morrerá enforcada, príncipe meu senhor!
Daí a pouco o príncipe perguntou a mesma cousa. O criado respondeu:
-Se a criança nascer neste momento traz a sina de morrer degolada!
Logo depois, à outra pergunta do príncipe, o criado dizia que se a criança nascesse naquele momento havia de morrer afogada.
Uma meia hora depois o dono da casa voltou todo satisfeito, anunciando que sua mulher tinha descansado uma menina, bonita como os amores, gordinha e corada. E voltou para junto da sua mulher.
O príncipe perguntou:
-Que destino traz essa menina que nasceu?
 O criado fez os cálculos e disse:
-Essa menina que acaba de nascer casará com o príncipe meu senhor e será dona deste reinado!
-Vamos ver se desmancho o destino!
-O que tem de ser tem muita força, meu senhor!
O príncipe entrou na casinha do pobre e pediu a este que lhe desse a menina para ele criar como filha, com todo luxo e gosto. O homem e a mulher, depois de algumas negativas, aceitaram o oferecimento e o príncipe mandou embrulhar na sua capa a criancinha, entregou-a ao criado e montou a cavalo ,partindo para o palácio. No caminho, atravessando um bosque de oliveiras, parou, mandou o criado descer e ordenou que fosse matar a menina, sacudir o corpo num barranco e trazer a ponta da língua como sinal de haver cumprido a ordem.  
O criado foi para o mato com a menina, e chegando não teve coragem de matar uma inocente. Fez uma cama de folhas, debaixo de uma oliveira, deitou a menina e, matando um guabiru, cortou a ponta da língua e foi mostrá-la ao príncipe que acreditou estar a criança bem morta.
Nesse mesmo dia, uma antiga criada do palácio, que morava com seu marido numa casinha nos arredores, veio cumprir uma promessa de rezar um rosário e acender três velas bentas nos pés de uma santa cruz que havia ali. Entrando, a mulher ouviu choro de recém-nascido e tanto procurou que avistou a criancinha, roa de frio e de fome. Agarrou-a mais do que depressa, agasalhando-a e foi mostrá-la ao marido. Como não tinham filhos e suspeitaram de um mistério com gente poderosa, conduziram a menina para casa e a mulher se fez de mãe legítima, espalhando a notícia de ter dado á luz uma filhinha.  
Como a menina fora achada num de oliveiras, chamou-se Maria de Oliveira.
A rainha, desconfiada que sua velha criada não fosse mãe verdadeira, mandou-a chamar e botou-a debaixo de confissão para saber a verdade.
A mulher negou, mas disse tudo como sucedera. A rainha, que soubera do crime do filho, evitado pelo criado, exclamou:
-Meu Deus! O que tem de ser tem muita força!
Não permitiu que a criada voltasse com Maria de Oliveira e ficou com a menina, adotando-a com filha, dando tratamento e ensino de uma princesa.
O rei morreu e o príncipe coroado, Maria de Oliveira estava uma moça feita, toda bonita e faceira, elegante e vestindo como poucas. A rainha era doida por ela, mas o jovem Rei tinha um ódio de morte, embora não soubesse a história da mocinha.
Dia vai, dia vem, o Rei moço cada vez odiava mais sua irmã de criação. Nunca lhe dirigia a palavra nem lhe pedia cousa alguma. A moça, entretanto, tudo fazia para satisfazê-lo e entrar na suas graças.
Não podendo mais explicar a razão de sua raiva contra ela, O Rei exigiu do velho criado a verdade sobre a morte a menina na mata das Oliveiras. Tanto ameaçou e gritou que o velho disse tudo direitinho.
- Então Maria de Oliveira é aquela Menina?
- O que tem de ser tem muita força, meu senhor!
O Rei resolveu matar Maria de Oliveira e, como precisasse de um motivo justo, chamou-a pela primeira vez. A moça foi correndo e rindo de alegria. O Rei bem sério, entregou-lhes as chaves da sala do tesouros e disse que ia viajar no outro dia e quando regressasse queria ter na mão a penca de chaves, como a entregara.
Maria de Oliveira foi para seu quarto e guardou as chaves numa gaveta da cômoda. O rei, que a seguira, viu o lugar , entrou, ante pé, furtou as chaves e sacudiu-as no mar. Depois seguiu sua viagem.
Maria de Oliveira  foi procurar as chaves para escondelá-las melhor e não achou cousa alguma. Passou a noite procurando como uma louca e nada encontrou. Correu até a rainha e contou tudo. A rainha velha ficou muito alma e replicou.
-Mais altos são os poderes de Deus que a vontade dos homens, minha filha. O que tem de ser tem muita força!
Á tarde os criados compraram peixe para a ceia e, quando abriram uma cavala, grande e gorda por demais, viram um objeto escuro e pesado que reconheceram ser um molho de chaves. Levaram a penca à rainha que a mandou entregar à Maria de Oliveira no oratório.
No outro dia o Rei chegou e foi logo dizendo:
-Onde estão as chaves, Maria de Oliveira?
-Estão aqui, Rei meu senhor!
O Rei mudou de cor e quase não acertou a andar, de assombrado.
Para vencer o destino que lhe fora dito, deliberou casar com outra e mandou buscar uma princesa num reinado vizinho. O Rei da aceitou o pedido e embarcou a princesa. Esta vinha muito triste porque amava outra pessoa no reinado do seu Pai e não queria, de forma alguma, casar com o Rei moço.
O Rei, a rainha velha e Maria de Oliveira foram receber a princesa.
Maria de Oliveira estava que era um espelho, de bonita, faiscando de joias e todo o mundo a gabava. A princesa, ao contrário, estava pálida, sem animação e tão murcha para quem vinha se casar, que Maria de Oliveira, quando a viu, disse;
- Pássaros que contam,
Uvas que dançam...
Nunca vi noiva
Com tanta mudança!
A princesa ficou logo simpatizado com Maria de Oliveira e, assim que chegou ao palácio, trancou-se num quarto e contou seu segredo à moça.
- Arranje um jeito do Rei meu pai. Ficarei grata por toda a vida se for possível esse trato. Maria de Oliveira então converso baixinho com a princesa e acertam o contrato. A princesa disse que o Rei apagasse a luz e ela entraria no escuro. O Rei assim fez e Maria de Oliveira foi no lugar da princesa.
Algumas horas depois, O Rei, satisfeito por ter enganado o destino, deixou a moça e, com uma bengala, veio até a cama de Maria de Oliveira, onde a princesa estava deitada, e deu-lhe uma surra feroz, jugando bater em Maria de Oliveira.
Durante a noite, o Rei tirou do pescoço um colar de ouro e colocou em Maria de Oliveira. Depois pegou no sono e a moça escapuliu-se para seu quarto, indo a princesa para o quarto do Rei, toda machucada pelas bengaladas.
Na manhã seguinte  o Rei admirou-se de a princesa estar tão abatida e pesarosa e Maria de Oliveira , que apanhara tanta panada, andar pulando feito canário.
À noite foi a mesma cousa. Maria de Oliveira ganhou um anel com o nome do Rei e este veio da outra sova na pobre princesa, certo de que estava surrando Maria de Oliveira.  
Durante o dia a surpresa do Rei foi enorme. Maria de Oliveira viva como um azougue, A princesa molenga, arrastando os pés, amarela como flor-de-algodão.
Na terceira noite, Maria de Oliveira recebeu uma pulseira e aprincesa outra carga de pau.
Vendo-a tão doente, calada, sucumbida, o Rei não quis saber de muita conversa. Desconfiou de ter acontecido algum sucesso estranho. DE mais a mais, Maria de Oliveira não veio almoçar ficando no quarto, dizendo que estava doente.
-Ah! Desta vez a bengala fez milagre e desencantou a bicha! Vamos ver essa mocinha cheia de prosa!
Tocou-se para o quarto de Maria de Oliveira. Encontrou-a muito linda, bem-vestida, com o colar no pescoço, anel no dedo e pulseira no braço.
O Rei, aproximando-se, reconheceu as joias que pensava ter dado à princesa e ficou espantado.
-Quem te deu essas joias, Maria de Oliveira?
-Foi o Rei meu senhor!
O Rei balançou a cabeça e rodou em cima dos pés, indo mandar preparar um navio para a princesa viajar, voltando ao reinado do rei  seu Pai, levando muitos presentes e desculpas.
Não podendo mais lutar contra o destino, o Rei casou com Maria de Oliveira, coroando-a rainha e foram muito felizes.
 

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